Amor nos tempos modernos
Conversamos com Liv Strömquist, quadrinista sueca autora de “A origem do mundo”, sobre seu novo livro, “A rosa mais vermelha desabrocha”, que fala de amor, relacionamentos e capitalismo
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Conversamos com Liv Strömquist, quadrinista sueca autora de “A origem do mundo”, sobre seu novo livro, “A rosa mais vermelha desabrocha”, que fala de amor, relacionamentos e capitalismo
Autora do sucesso mundial A origem do mundo – que narra a história da vulva em uma reflexão sobre a sexualidade ao longo dos séculos -, a quadrinista sueca Liv Strömquist lança no Brasil sua mais nova HQ. A rosa mais vermelha desabrocha aborda temas como amor e relacionamentos de uma maneira inteligente e perspicaz. A partir de questões tais como “podemos controlar o amor?”, “o que realmente acontece quando ele acaba?”, o quadrinho traz uma colagem de referências que vão da filosofia à cultura pop para investigar os relacionamentos modernos e a capacidade de entrega à paixão. Liv mais uma vez desconstrói mitos e se firma como uma das quadrinistas mais relevantes da atualidade. Conversamos com a quadrinista, que nos contou um pouco sobre suas referências, processo criativo e inspirações.
Liv Strömquist. Imagem: reprodução
É difícil dizer porque eu começo a pensar sobre o tema de um livro vários anos antes de começar a escrever. Posso estar trabalhando em um livro, mas já estou pensando no próximo. Eu escuto algo e coloco no papel, compro livros e vou colocando em uma pilha. Coleciono coisas diferentes e isso leva um tempo. Mas em geral demoro cerca de um ano e meio pra escrever o roteiro e fazer o livro.
Um livro da socióloga franco-israelense, Eva Illouz, foi uma das principais influências do meu trabalho em A rosa mais vermelha desabrocha, normalmente meus livros são baseados em teorias da sociologia. Fiquei muito interessada pelo tema e pelas teorias que anunciam o desaparecimento do amor e fui acumulando informações sobre o assunto.
Tento me permitir incorporar diferentes coisas que me fazem feliz, que me despertaram interesse, ou que gosto ou acho divertido. Por exemplo, eu me interesso por revistas de fofocas e ler fofocas on-line, estou interessada na cultura das celebridades, mas também estou interessada em filosofia, sociologia, história da literatura e assim por diante, então gosto de misturar esses interesses.
Quando eu escrevo um livro, busco um tema que realmente me interesse e que, muitas vezes, é algo que quero entender e pesquisar por curiosidade minha mesmo. Eu me pergunto: por que isso é assim? E foi isso que me levou a escrever sobre o sentimento de se apaixonar e se desapaixonar. É algo que, pela minha experiência, não é possível controlar. Você às vezes quer agir de maneira diferente, mas você é torturado por certos sentimentos que não pode controlar. Atualmente, temos essa ideia ilusória de que podemos controlar tudo, calcular tudo, atingir objetivos e decidir as coisas, eu mesma sou muito assim, muito racional. E então você fica muito chocada quando se vê na situação de estar deixando de amar alguém. Você até pode querer continuar estar apaixonada, mas já não está. Mas por quê? Foi uma investigação que extrapolou a visão psicológica e foi para o lado cultural.
A sociedade mudou muito nos últimos cem anos e eu acredito que, em certa medida, os sentimentos são parte de uma construção social também. Penso muito no amor, para mim e para meus amigos ele tem sido um tema constante nas nossas vidas. Já para as gerações anteriores o amor talvez não tivesse um peso tão grande na vida como tem hoje. Agora podemos terminar um relacionamento e por isso é preciso dedicar uma energia enorme para mantê-lo e também para terminá-lo. E isso é muito típico do nosso tempo. Podemos conhecer e estar com tantas pessoas, podemos nos separar de tantas pessoas. Está tudo tão acelerado por causa da tecnologia. Essas questões me levaram a esse livro.
A rosa mais vermelha desabrocha: O amor nos tempos do capitalismo tardio ou por que as pessoas se apaixonam tão raramente hoje foi lançado no início de abril pela editora Companhia das Letras e já está à venda.
Maria Clara Villas é criadora de conteúdo, videomaker e leitora assídua. Atualmente trabalha com produção de conteúdo na área de arte e cultura e garimpeira dos melhores links da internet em sua newsletter quinzenal Hysteria das Galáxias. Siga: @mariaclaravillas
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