Diversidade e cotidiano nas HQs
Natália Sierpinski entrevista a quadrinista Lana Clarice sobre suas produções em quadrinhos
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Natália Sierpinski entrevista a quadrinista Lana Clarice sobre suas produções em quadrinhos
Temos como padrão e norma na nossa sociedade o homem-branco-cisgênero-heterossexual que é muito representado no cinema, novelas, publicidade, jornalismo, e claro, nas histórias em quadrinhos, com os mais variados arcos narrativos e centenas de milhares de histórias com “finais felizes”.
As produções hegemônicas, além de trazerem pouca diversidade de personagens, quando têm algum personagem que foge “a norma” é muito comum termos representações estereotipadas e reducionistas nos personagens em si e nos seus arcos narrativos. Um estereótipo narrativo comum para personagens LGBT+, por exemplo, é o desfecho trágico, tendo a morte, o sofrimento, a doença (quase sempre AIDS) como conflitos narrativos que movem a história e o personagem.
Nos últimos anos, é possível observarmos produções de autoria de mulheres nas histórias em quadrinhos independentes que tratam de temáticas de diversidade LGBT+, com personagens que fogem dos estereótipos usuais e com narrativas que fogem desse foco trágico. Esses trabalhos trazem o cotidiano com seus conflitos e incertezas para as páginas, que também são recheadas de alegria e amor, como por exemplo as HQs Melaço (2018), Histórias quentinhas sobre sair do armário (2019) e A vida de Nina (2019).
A webcomic Mundo meio roxo (2020), de Lana Clarice, vai nessa mesma direção É uma coletânea de tiras que trazem personagens diversos, com orientações sexuais, etnias e características físicas plurais, e tem os conflitos do cotidiano da vida do proletariado sendo abordados de maneira divertida em toda a HQ.
Lana Clarice é uma mulher transgênero, periférica, ilustradora, quadrinista e atriz, trabalha com arte desde 2016, publica suas HQs no seu Instagram e Twitter. Esse ano Lana lançou por financiamento coletivo as HQs Mundo meio roxo e Diário de Sun, no formato digital e físico. Confira nossa entrevista com a autora abaixo!
Sempre gostei de desenhar e criar histórias. Meu gosto começou vendo animes e cartoons na televisão. Em 2016 consegui comprar uma mesa usada para desenhar no computador e então comecei a criar pequenas histórias e tirinhas que hoje em dia têm muitos capítulos.
Eu sempre notava que as histórias que compartilhavam eram com personagens padrões e genéricos muito diferente da realidade. Se você sair de casa e reparar nas pessoas a sua volta verá muita diversidade com cada um carregando uma história, foi isso que tentei transmitir na criação dos personagens. A maioria deles foram inspiradores em pessoas que conheço durante a vida e isso me ajudou bastante para deixá-los mais carismáticos.
Gosto de demostrar momentos bons e engraçados do dia a dia. É muito importante a gente se distrair um pouco e lembrar que a vida não é só sofrimento.
Eu queria que o novo tivesse “Mundo”, pois estaria falando sobre a vida de muitas pessoas e com vivências diferentes. A parte do ” meio roxo” foi tanto pela fala da personagem Lulu, de lol, ” tem um gosto meio roxo”, quanto as cores da bandeira Bissexual, que tem a cor roxa.
Tenho como referência a Laerte e Julis Kaye, ambas são artistas trans e isso é muito importante para mim. Acho que ficamos mais motivades quando conhecemos alguém igual a nós.
Eu acompanho bastante a Cecília Ramos (@cartumante), Kiyoko (@titiabolha), Nico (@NICOx2N), Ana Triz (@_anatriz) e Mason (@ErinElliotC).
Natália Sierpinski é paulistana, educomunicadora e pesquisadora de histórias em quadrinhos, gênero, sexualidades e educação É coordenadora da programação do evento Butantã Gibicon e fala sobre HQs no podcast Flautinha Peruana.
Siga: @n.sierpinski
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Mestre em Ciências da Comunicação (PPGCOM-USP) com pesquisa sobre autoria de mulheres nas HQs no Brasil e Licenciada em Educomunicação (ECA-USP) com trabalho final sobre o uso das HQs para falar sobre gênero nas escolas. Pesquisa sobre gênero e histórias em quadrinhos desde 2014, já escreveu nos sites Garotas Nerds e Minas Nerds. É coordenadora da programação do premiado evento Butantã Gibi Con.