Regionalismo contra estereótipos
Conversamos com Helô Rodrigues, ilustradora e quadrinista paraense que se encontrou ao retratar a cultura local de seu Estado
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Conversamos com Helô Rodrigues, ilustradora e quadrinista paraense que se encontrou ao retratar a cultura local de seu Estado
Como grande parte dos leitores brasileiros, Turma da Mônica foi a primeira referência de histórias em quadrinhos para Helô Rodrigues. Ilustradora e quadrinista de Belém, Pará, se tornou fã de desenhos animados, ilustração e quadrinhos. Começou a desenhar na infância, aos 9 anos, mas nunca se conectou com os super-heróis e não se sentia representada dentro das HQs.
Hoje, aos 22 anos, Helô é estudante de design gráfico e quando se entende como ilustradora e quadrinista quis representar exatamente o oposto do que via. Seu trabalho privilegia mulheres “fora dos padrões” e aspectos da estética e da oralidade do Pará: “O lance é quebrar estereótipos sobre o que pensam dos nortistas e nossa cultura”.
A recepção é sempre calorosa, as pessoas daqui recebem as artes com tanta propriedade, compartilham, marcam os amigos, lembram de uma situação parecida, é legal ver isso. O pessoal de fora sempre chega dando feedback legal também, alguns me perguntam o que significa tal gíria, o que significa tal coisa, mas quase sempre entendem. Atinjo muitos paraenses espalhados pelo mundo também, alguns já relataram pra mim que sempre se sentem mais perto de casa quando eu posto algo a ver com nossa cultura, nosso estado.
Sim, tive no início esse receio, mas eu sempre fui do tipo de não deixar o medo vencer os meus objetivos, eu queria e sempre achei muito importante falar sobre minhas raízes, a cultura paraense no geral. Vejo hoje que era apenas um receio mesmo, tô aí com várias pessoas daqui de dentro da terrinha e de fora me mandando mensagem, rindo das historinhas e isso pra mim já é muito.
São tantos, mas os principais são eles: o mercado, não foi fácil ser levada a sério no início, pra eu poder cobrar o que eu cobro hoje em um serviço foi uma caminhada longa e estressante. O mercado, principalmente aqui em Belém, pra ilustração e pros quadrinhos, é escasso, a gente tem que se impor. O preconceito pelo fato de ser mulher e ter como profissão ser ilustradora e quadrinista. Acredite, já escutei coisas bem chatas por isso, dentro de grupos de artistas até. O embate com a família de “eu quero ser artista e ganhar do que eu faço”. Sair de casa e se sustentar com a própria arte. Não ficar calada, sempre expor opiniões.
Siiim! Eu e meu noivo, que é roteirista de quadrinhos, estamos trabalhando em um projeto inicialmente intitulado “HQ do Brega”. A proposta é fazer uma HQ bem regional, mas não atingir somente o pessoal local e sim o Brasil todo, levar cultura paraense pra fora e escancarar! Fora a “HQ do Brega” penso em lançar alguns zines falando sobre questões do cotidiano, autoestima etc. É tanta coisa, mas eu gosto de ir fazendo uma coisa de cada, pra sair tudo direitinho e jeitoso.
Bora lá! Tem a Lua Portugal (@luadraws), Amanda Barros (@mandy.barros.oficial), Amanda Gil (@mandiegil), Marina Pantoja (@mahlice.paper), Júlia Lustosa (@ilustra_lustosa), Maiara Malato (@_mai.drawing), Sara Failache (@sfail_), Ty Silva (@tysilva_), Adriana Abreu (@adriana.penciler) e a Beatriz de Miranda (@beatrizfarmi). Existem muitas outras manas também que estão crescendo nessa área dos quadrinhos. O Pará tá cheinho de mulheres artistas supertalentosas!
* Anne Ribeiro é jornalista, de Belém (PA). No perfil @pralerhq ela escreve sobre quadrinhos para debater política, questões de gênero e universo LGBT.
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