TABU, HQ sobre assuntos incômodos
Com histórias de Amanda Miranda, Lalo e Jéssica Groke, a coleção tem quadrinhos sobre temas dos quais a maioria dos autores manteriam distância
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Com histórias de Amanda Miranda, Lalo e Jéssica Groke, a coleção tem quadrinhos sobre temas dos quais a maioria dos autores manteriam distância
Aquelas coisas que ninguém ousa fazer, falar ou até mesmo refletir sobre. Assuntos incômodos e proibidos que não podem ser abordados sem causar grande desconforto em todos os envolvidos. É justamente esse o tema da Coleção TABU, lançamento da Editora Mino.
Com histórias de Amanda Miranda, Lalo e Jéssica Groke, TABU é uma coleção de três quadrinhos com histórias impactantes sobre temas dos quais a maioria dos autores manteriam distância.
Conversamos com cada uma das autoras para saber um pouco mais sobre seu processo e suas histórias:
Amanda Miranda: É uma historia sobre mentiras, cumplicidade entre mulheres, segredos que mantemos para continuar vivendo uma vida “ideal”. A personagem principal lida com a situação fazendo uma escolha que é muito questionada na nossa sociedade. Justamente por uma parcela considerável do público ver essa temática com um olhar cínico, de superioridade moral, não achei que explicar o motivo da escolha dela acrescentaria na narrativa. Ela só escolhe. Tentei realçar a humanidade dela passando por essa via crucis moral, nostálgica, emocional, até tomar a ação, porque não é uma escolha fácil pra ninguém. As pessoas escolhem manter determinados assuntos tabus por medo de que falando sobre eles banalizaria os mesmos, quando na verdade a sombra, o silêncio e a censura só projetam dúvida e desamparo. Não falar sobre esses assuntos é escolher não lidar com problemas gigantes que existem aqui e agora.
Lalo: O tema que eu escolhi foi suicídio, mas no fim minha história fala mais sobre lidar com o desejo de morrer de um próximo. Além de ser um pecado cristão, o desejo suicida é uma negação do suposto instinto de sobrevivência, uma reação a dor insuportável. E por extensão a indigestão pra aceitar e conversar sobre essa dor com alguém que você ama é parte do tabu.
Jéssica Groke: Minha história é sobre sexualidade infantil. O tabu da sexualidade infantil é que insistem em negar que ela existe e tentam reprimir isso de todas as formas. A criança tem sua sexualidade, seus desejos. O que não pode ocorrer de nenhuma forma é a criança ser objeto de desejo sexual de um adulto, isso é pedofilia, é errado. Mas a curiosidade e a descoberta sexual da própria criança é algo natural.
Amanda Miranda: “Juízo” é um passo adiante no meu processo de tornar minha narrativa menos hermética. Meu trabalho anterior, Hibernáculo, foi um exercício poético onde tentei ir ao máximo do que a experimentação de ritmo poderia me dar. Parte do conteúdo acabou ofuscado pela forma que eu escolhi mostrá-lo; parte do público não pegou os aspectos sexuais que a narrativa discute, de repressão externa e interna. Temáticas pesadas sempre estiveram próximas do meu trabalho tanto em quadrinhos quanto em ilustração e pretendo continuar explorando eles com profundidade cada vez maior. Já ilustrei temas como violência policial, negligencia estatal, corrupção, etc. Desde o meu primeiro quadrinho apresentei personagens paranóicos, delirantes, disruptivos. Nessa HQ eu só intensifiquei a carga visual, com algumas cenas beirando o gore e o body horror. É um caminho que pretendo continuar trilhando, acredito que há muito de político pra se contar no gênero de horror.
Lalo: Ano passado lancei um gibi chamado Queda. Lá eu já tentei falar sobre suicídio, principalmente sobre dissociação e violência auto infligida. Mas esse gibi foi uma experiência com uma tiragem bem reduzida, o peso de falar sobre isso numa plataforma que mais gente vai por a mão é bem maior. Consultei uma psicologa que estuda suicídio, e respeitei as recomendações da OMS para tratar do tema, mas mesmo assim a missão de construir a narrativa em trinta páginas e não ser leviana é intensa. E foi por esse limite de páginas que eu decidi basear a história em um único diálogo, “Cina” é uma longa conversa tensa e truncada com tensões e desejos conflitantes em jogo. Digo isso porque não acredito que exista uma única maneira de se sentir e viver o desejo de morrer, minha história é só mais uma tentativa de falar sobre isso. Eu sei que é importante conseguir conversar sobre suicídio.
Jéssica Groke: Essa história é bem diferente dos meus trabalhos anteriores, pois não é autoficção ou autobiográfico. Tive que criar personagens e dar vida à eles. Essa parte foi difícil, mas fiquei satisfeita com o resultado. Acho que consegui criar personagens com voz própria. Mas, também optei por manter algumas características dos meus trabalhos anteriores, como a narrativa sem requadros e a arte em grafite. Trabalhar com esse tema foi difícil, pois é bastante delicado. Não queria que sexualidade infantil fosse confundida com pedofilia ou hipersexualização das crianças. São coisas COMPLETAMENTE diferentes. Tive que ter muita sensibilidade e cautela com o tema.
O lançamento da Coleção TABU acontece no sábado, dia 5 de outubro, na Ugra Press, em São Paulo. Ele também está disponível na internet por pré-venda no site da Editora Mino.