Mulheres autistas na cultura pop
Ana Fernandes, criadora do Nerd PCD, entrevista a quadrinista Juliana Monique, que usa seus desenhos para falar sobre autismo
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Ana Fernandes, criadora do Nerd PCD, entrevista a quadrinista Juliana Monique, que usa seus desenhos para falar sobre autismo
No dia 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data criada em 2007 pela ONU para debater sobre essa condição que atinge cerca de 70 milhões de pessoas no mundo. “Eu acho que esse dia pode ser mudado para ‘Dia Mundial da ACEITAÇÃO do Autismo’, porque não basta saber, se conscientizar que tal pessoa tem autismo, temos que aceitar como uma forma válida de se viver”, defende Ana Fernandes, criadora do Nerd PCD, o primeiro grupo nerd voltado para as pessoas com deficiência do Brasil.
Ana é estudante de artes visuais e mora em Campinas (SP). Em 2019, ela decidiu criar o Nerd PCD inspirada em outras iniciativas de grupos sub-representados na cultura pop: “Eu via que tinha muito conteúdo sobre as meninas, pessoas negras e os homens gays nos quadrinhos e na cultura pop, em geral. Acho muito importante. Mas nada sobre pessoas com deficiência”, conta ela, que é autista verbal, de grau leve. “Nós, do movimento autista, estamos aqui para lembrar que o autismo tem muitas qualidades e que é apenas uma característica da pessoa”, afirma.
“É importante ter espaço para a discussão e a conscientização sobre o autismo para combater o preconceito e o capacitismo. É importante dar voz aos autistas, ouvir o que temos a dizer”, diz Juliana Monique, autora da página Autie Word. A quadrinista e designer de Osasco (SP) passou a usar a linguagem dos quadrinhos para contar suas experiências após ter sido diagnosticada Síndrome de Asperger, um estado do espectro autista, aos 32 anos.
À convite da Mina de HQ, Ana Fernandes entrevista Juliana Monique para falar sobre autismo e feminismo no meio nerd.
Obrigada!!! Esse feedback é sempre importante e fico feliz quando recebo essas mensagens. Isso me motiva a continuar!
O autismo ainda está muito associado à figura masculina. A maioria dos personagens autistas em filmes, séries e quadrinhos ainda são representados por homens. Acho que temos um longo caminho a percorrer para quebrar alguns paradigmas sobre esse assunto. Nas redes sociais foi onde tive a oportunidade de conhecer diversas mulheres autistas que produzem conteúdo e trazem essa representatividade para nós.
Ana Fernandes, criadora do Nerd PCD
Juliana Monique, autora do Autie Word
Para mim, é uma das formas de falar ao mundo: sim, nós existimos!!!! Ao receber o diagnóstico depois de adulta, passei a buscar todo tipo de informação sobre autismo e foi quando encontrei algumas mulheres que, com sua arte, expressavam seus sentimentos, suas descobertas e fui inspirada por elas a criar o meu canal. Quando dizemos ao mundo que nós existimos, mostramos nossas dificuldades, nossas descobertas e batalhas diárias, estamos não só compartilhando nossas emoções, mas também denunciando um sistema falho em diagnosticar meninas e mulheres [porque a maioria dos estudos foi feita por e para homens cisgêneros], estamos informando pais, mães e outras mulheres sobre o autismo e que ele deve ser levado a sério. Estamos falando que somos capazes de tudo! Estamos lutando contra o capacitismo e o preconceito.
Sim, sim e sim! Infelizmente, essa imagem do homem cis como um gênio incompreendido ainda é o recurso mais utilizado para representar os autistas e não poderiam estar mais errados. O autismo é um espectro e nenhum autista é igual ao outro.
A ideia veio depois do diagnóstico. Quando você descobre que é autista depois de adulta, tudo muda. Você passa a rever toda sua vida por uma nova ótica, as coisas começam a fazer sentido. Havia muita coisa que eu queria dizer e foi nas redes sociais que encontrei outras mulheres com uma trajetória parecida. Elas me inspiraram! Criei o canal para falar dessas descobertas e mudanças, mas também para informar sobre o autismo em mulheres e suas peculiaridades, para que pais e mães estejam atentos. Muitas meninas chegam à fase adulta sem o diagnóstico e isso tem um impacto muito grande na vida e na saúde mental delas.
Acredito que mostrando que somos capazes, que somos criativos e que não tem problema ser diferente.
Atualmente, tenho me dedicado mais ao Autie Word tenho planos de lançar uma HQ maior, estou desenvolvendo o roteiro. Espero trazer essas novidades em breve!
Ana Fernandes é estudante de Artes Visuais e mora em Campinas (SP), é criadora do perfil Nerd PCD, que aborda assuntos da cultura pop sob a ótica das pessoas com deficiência. Siga: @nerdpcd
Juliana Monique é quadrinista, designer e mora em Osasco (SP). É autora da página Autie World, onde conta suas experiências após o diagnóstico de autismo com 32 anos e membro da Ordem das HQs. Siga: @autie_word
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