Coloristas brasileiras e carreira
Coloristas brasileiras falam sobre carreira e mercado de trabalho
Amanda Freitas, Cris Peter, Priscilla Tramontano e Mariane Gusmão compartilham experiências e dizem o que é necessário para ter sucesso na profissão
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Coloristas brasileiras falam sobre carreira e mercado de trabalho
Amanda Freitas, Cris Peter, Priscilla Tramontano e Mariane Gusmão compartilham experiências e dizem o que é necessário para ter sucesso na profissão
Coloristas brasileiras falam sobre carreira e mercado de trabalho:
Amanda Freitas, Cris Peter, Priscilla Tramontano e Mariane Gusmão compartilham experiências e dizem o que é necessário para ter sucesso na profissão
Colorir histórias em quadrinhos é um trabalho que exige muito mais do que técnica. Profissionais como Amanda Freitas (@manda_fritas), Cris Peter (@coloristdiaries), Priscilla Tramontano (@pr1ps) e Mariane Gusmão (@marypotts) afirmam que disciplina, equilíbrio e sorte têm papéis importantes na construção dessa carreira que desperta interesse crescente.
“O colorista preenche com cores o desenho já finalizado, pelo desenhista ou um outro artista separado. Às vezes existe uma paleta de cores a ser seguida, mas o colorista pode ter mais liberdade artística também” , explica Amanda Freitas, autora de The Flower Pot e indicada ao Troféu HQMIX.
Priscilla Tramontano, envolvida em títulos como Transformers, GI Joe, Godzilla e na graphic novel Turma da Mônica: Laços diz que “o colorista tem o papel no processo do quadrinho que é tão importante quanto o roteiro, arte ou letrista, que é contar a história do jeito que o criador a conceptualizou” .
“Nosso papel é ambientar a história, cores podem mudar completamente o sentido de um roteiro. Como diz o Davi Calil, ‘a cor é a trilha sonora do quadrinho'”, explica Mariane Gusmão, colorista premiada com o Troféu HQMIX e que recentemente lançou “O Menino Rei”.
Cris Peter define o colorista como o profissional que vai fazer o trabalho de pintura (normalmente digital) em artes já desenhadas e arte-finalizadas. A vencedora do Troféu HQMIX e indicada ao Prêmio Eisner já trabalhou para editoras estadunidenses – entre elas Marvel, DC Comics, Image e Dark Horse – e detalha alguns processos: “Normalmente tudo começa com um e-mail da editora me apresentando o projeto, o time, os valores e os prazos de entrega. Depois disso eu só preciso receber as artes desenhadas para começar a produção. Existe um primeiro processo onde colocamos uma cor base em todos os objetos da página, é um trabalho de bastante paciência que a maior parte dos coloristas terceiriza, pois nossa expertise está na hora de fazer o que chamamos de renderização, que seria a parte de composição de cores, pintura de volumes e efeitos de iluminação”.
collapser – cores cris Peter
alvez os leitores de quadrinhos não imaginem quanto trabalho envolve dar cor às páginas, mas ele é enorme. “As páginas chegam pra mim junto ao script (às vezes já pronto, às vezes só no draft, depende do momento da execução). A primeira etapa é ler o roteiro, entender a estória, entender com o que vou trabalhar. Se necessário – quase sempre é – faço uma caça por referência pela internet. Pode ser uma coisa específica citada no roteiro, tipo um dos milhões de personagens que existem em Transformers, ou até cores que eram muito usadas em roupas femininas nos anos 30. Tendo isso em mãos, eu vou para a colorização”, afirma Priscilla.
Transformers – cores Prips
Controlar o tempo é uma habilidade muito valorizada entre coloristas. “É necessário termos um bom planejamento de cronograma, já que a colorização é uma das últimas partes na escala de produção de quadrinhos. Muitas vezes sobra para nós (e os letristas) apressar nosso processo por questões de atraso no roteiro e arte, porém, sabendo se planejar e antecipar os problemas, é totalmente possível evitar o estresse”, avalia Cris Peter.
“Aprendi a ser mais organizada e cumprir prazos, e como sou tímida também tive que aprender a conversar com as pessoas e mostrar meu trabalho sem medo! Minhas dicas são: Evite se comparar com os outros, estude cor, mas também desenho, pois ajuda a colorir melhor, principalmente anatomia. Tenha paciência com você mesmo e seu processo, seja legal”, diz Mariane Gusmão.
Desafiadores do destino – cores Mariane Gusmão
“Seja pontual, seja responsável. Sendo linha, cor, balão, ou mesmo um trabalho autoral todo feito por você, existe, sim, um prazo e outras pessoas que vão contar com você cumprindo esse prazo. Não se acha rápido? Então foca nisso enquanto prática”
Priscilla Tramontano, que também cita a importância do equilíbrio e ressalta: “Seja gentil com você. Às vezes o trabalho fica apertado e os prazos são curtos e o pagamento faz com que você tenha que pegar mais e mais projetos pra poder bancar seu sustento. É difícil aprender a moderar no começo. Mas por mais mágico e legal e especial que seja trabalhar em quadrinhos, ainda é trabalho e trabalho não pode sobrepor nem a nossa saúde nem nossa vida”.
Amanda Freitas afirma que a lição mais valiosa que aprendeu na carreira serve também como dica: “A produção de quadrinhos, falando num geral, só acontece… fazendo! Estudar teoria das cores e analisar o trabalho de quem a gente admira é muito bom, mas só dá pra entrar no mercado de trabalho colocando suas produções à mostra!”.
The Flower Pot – de Amanda Freitas
Priscilla Tramontano também destaca a necessidade de experimentar: “Uma lição que eu sempre guardo no coração, e aprendi mais sendo leitora de quadrinhos do que trabalhando neles, é que essa mídia específica aceita tudo. A página em branco é o que você precisa pra contar sua história”.
Como uma carreira não é feita apenas de variáveis controláveis, Cris Peter lembra que sorte é importante. “Acho que a maior lição que aprendi foi que sorte tem uma grande parte na construção de uma carreira, depois disso também é necessário ter muita prática e estudos”, afirma. “É necessário equilíbrio na rotina, e um casco de aço para persistir e não se intimidar”.
Cris Peter confessa ser “bastante azeda” com relação ao mercado nacional e diz que ele não tem o valor do esforço que exige. “Aqui no Brasil ainda é mais comum o artista responsável pelo desenho fazer as cores também. Quanto à participação feminina nele, não saberia avaliar quando se trata do mercado brasileiro, já que por si só ele é pequeno demais”.
Astrounaura Magnetar – cores de Cris Peter
“Ao longo dos anos mais mulheres têm conseguido seu espaço. Ainda há muito o que melhorar, pois ainda existe certo preconceito, mas me sinto otimista com relação a isso. Se nos apoiarmos vamos longe!”, finaliza Mariane Gusmão.
Anne Ribeiro é jornalista, de Belém (PA). No perfil @pralerhq ela escreve sobre quadrinhos para debater política, questões de gênero e universo LGBT.
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