Porém, minha mãe trabalhava e estudava, virando a noite para entregar os trabalhos e relatórios da faculdade de Psicologia. Isso era feito à base de café e anfetaminas, de forma que em sua formatura ela parecia cadavérica. Dietas da moda, ginástica, eram rotina. Andávamos um tanto para chegar até o restaurante de comida macrobiótica que ela gostava de ir porque era a dieta do momento. Mas nada disso nos foi imposto e como eu era extremamente magra, nada disso me afetava. Mas o cabelo, bom, era uma briga, bem parecida com o que a Helô relata ter passado.
Sou neta de negros e indígenas, meu cabelo nunca foi liso e isso não era um problema até a adolescência, quando ele ficou extremamente volumoso e como eu não sabia como lidar com suas ondulações, vivia procurando soluções como encher o cabelo de óleo ou cremes que conferiam um aspecto esquisito. Até o cabelereiro recomendar um “relaxamento” que fedia tanto, que passei semanas constrangida. Se submeter a esse tipo de situação sempre pareceu muito natural.
Aí, ao ler a HQ, senti uma certa culpa, porque embora eu procure sempre reafirmar à minha filha que além de linda, ela deve saber que seu valor não reside nessa beleza, eu talvez tenha lhe causado traumas pela forma como eu lido com a minha aparência e isso me acendeu uma luzinha de alerta aqui dentro, sabe? (obrigada, Helô). Não faz muito tempo que eu tive um episódio de mal-estar bem agressivo que me acarretou um desmaio em pleno shopping. Isso porque estava me automedicando com um remédio que me ajudaria a emagrecer. O medo nos olhos da minha filha estão tatuados na minha retina permanentemente e espero nunca mais submetê-la a nada parecido. Acho que aprendi a lição (espero!).