Quadrinhos são só para crianças?
Natália Sierpinski indica 5 HQs para crianças e adultos lerem e se divertirem juntos
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Natália Sierpinski indica 5 HQs para crianças e adultos lerem e se divertirem juntos
É muito comum ainda hoje ao pensarmos em história em quadrinhos muitas pessoas remeterem essa linguagem ao gênero infanto-juvenil exclusivamente. A origem dessa suposição de que “quadrinhos são coisa de criança” é antiga e complexa, e está ancorada na ideia de que das HQs são uma subliteratura, ou seja, uma linguagem mais fácil, não tão elaborada e que pode vir de escada para a leitura “de verdade” dos livros sem imagens e, por isso, uma leitura muito indicada para crianças em fase de alfabetização.
Muito já foi discutido sobre isso e hoje temos muitos estudos que trazem as histórias em quadrinhos enquanto arte (a nona arte), tendo uma linguagem própria e complexa e refutando essa primeira ideia das HQs enquanto algo inferior à literatura.
Assim, apesar de termos histórias em quadrinhos que são voltadas a faixa etária de crianças e jovens, também temos muitas histórias em quadrinhos voltadas ao público adulto, não apenas nos casos de HQs eróticas, mas também HQs que trazem temas narrados de formas complexas, metáforas visuais ou questionamentos de vida com uma narrativa voltada a construção de significados para uma faixa etária mais velha.
Algo interessante quando pensamos na construção das narrativas das histórias em quadrinhos é que em uma mesma HQ podemos ver diversas camadas de significado, em que um leitor com um repertório pode compreender determinados pontos da narrativa e ter uma leitura satisfatória, enquanto outro leitor com outro repertório pode acessar outras camadas de significado e ter outro tipo de leitura tão satisfatória quanto.
Dessa maneira, pensando que HQs são tanto para crianças quanto para adultos, e fugindo um pouco do senso comum (e já muito conhecido) das histórias da Turma da Mônica, da Marvel e da DC Comics, trazemos abaixo a indicação de 5 quadrinhos, alguns que foram pensados para um público infantil e que podem divertir e surpreender adultos e outros que não foram pensados enquanto arte infantil, mas que podem ser lidos por crianças de 8 anos tranquilamente
A protagonista Raven é uma criança curiosa e corajosa que precisa partir em uma aventura para procurar seus pais desaparecidos, ela conta com a ajuda do urso Dimas para esta jornada fantástica. A HQ traz diversos personagens de outras narrativas infanto juvenis e além de ser uma história divertida e emocionante para uma criança de 8 anos, também conta com diversas metáforas visuais, metalinguagens e intertextualidades, chegando a ser tema de uma pesquisa de mestrado¹.
A história surgiu inicialmente como uma webcomic e depois foi publicada no formato impresso pela Editora Nemo. O roteiro e arte foi feito por Bianca Pinheiro, quadrinista de Curitiba (PR).
¹GAMBARINI, Klaus. Bear: o que acontece quando uma webcomic migra para o papel. 2019. 270 p. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras da Unifesp, Guarulhos, SP, 2019.
A protagonista Mambay também está perdida dos pais, como na HQ anterior, porém nesta história a personagem está bem tranquila de não estar com a família, faz amizade com um vampiro e passa apuros fugindo de cogumelos pigmeus zumbis, tendo também morcegos e coalas ao longo da jornada fantástica, que diverte todas as idades.
A HQ publicada pela editora Plot! e está disponível para compra na loja da Mina de HQ. Com arte e roteiro feito por Psonha, artista de São Paulo (SP) que atualmente é professora de ilustração da Quanta Academia de Artes.
Projeto começou como um artbook dos personagens, que se desenvolveu para uma história em quadrinhos que conta a origem da amizade da bruxinha e do guardião da floresta. Com uma história sobre companheirismo, amor e convivência, em que seres tão diferentes criam um laço e encontram gostos em comum, a HQ encanta crianças e adultos, sendo uma ótima leitura para ambos.
Com roteiro e arte feitos por Bárbara Machado, artista de Recife (PE), sendo esta sua primeira história em quadrinhos, publicada via financiamento coletivo no Catarse.
História premiada pelo troféu HQMIX em 2001 na categoria álbum infantil, traz a protagonista Suriá, criança de 8 anos que vive com os pais no circo e é trapezista. Apesar de voltada ao público infantil, como toda produção de Laerte, é complexa e traz uma narrativa envolvente também para adultos. É importante destacar que temos como protagonista uma criança negra que foge dos estereótipos usuais, ela aparece em pé de igualdade em relação as crianças brancas do bairro, é representada como princesa e como fada, tendo uma construção humanizada e que se preocupa em romper narrativas estigmatizantes.
Publicada inicialmente na folhinha do Jornal Folha de São Paulo, HQ foi impressa em sua versão completa pela Editora Devir. A consagrada quadrinista e artista Laerte é de São Paulo (SP), e este ano será a homenageada da Segunda Edição do evento Butantã Gibicon.
Com traços e cores em aquarela, a HQ Saudade traz a história de uma família que tem suas relações abaladas ao encontrarem com um cervo ferido na estrada, ao fazerem a escolha de trazer o animal para dentro da família, a HQ narra de forma envolvente e muito sensível, a relação de ganho e de perda de alguém na família e como lidar com esses ciclos e mudanças é essencial.
A HQ foi publicada via financiamento coletivo no Catarse e a autora Melissa Garabeli, de Ponta Grossa (PR) ganhou o Troféu HQMIX 2019 na categoria novo talento desenhista por esta HQ.
Natália Sierpinski é paulistana, educomunicadora e pesquisadora de histórias em quadrinhos, gênero, sexualidades e educação É coordenadora da programação do evento Butantã Gibicon e fala sobre HQs no podcast Flautinha Peruana.
Siga: @n.sierpinski
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Mestre em Ciências da Comunicação (PPGCOM-USP) com pesquisa sobre autoria de mulheres nas HQs no Brasil e Licenciada em Educomunicação (ECA-USP) com trabalho final sobre o uso das HQs para falar sobre gênero nas escolas. Pesquisa sobre gênero e histórias em quadrinhos desde 2014, já escreveu nos sites Garotas Nerds e Minas Nerds. É coordenadora da programação do premiado evento Butantã Gibi Con.