As mulheres da Graphic MSP
O selo da Mauricio de Sousa Produções completou 10 anos em 2022. Conheça as autoras que participaram dessas publicações e nos encantaram com histórias incríveis
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O selo da Mauricio de Sousa Produções completou 10 anos em 2022. Conheça as autoras que participaram dessas publicações e nos encantaram com histórias incríveis
O selo Graphic MSP, projeto editorial Mauricio de Sousa Produções de histórias dos personagens do estúdio feitas por artistas brasileiros e com estilos diferentes do padrão das revistas mensais, completou 10 anos em 2022. Que tal conhecer as autoras que participaram dessas publicações e nos encantaram com histórias incríveis?
Astronauta: Magnetar, out/2012 foi a primeira Graphic MSP. Em 2022, celebramos com o retorno às atividades presenciais e os tão famosos painéis anunciando os próximos lançamentos do selo capitaneado pelo editor Sidney Gusman, que voltaram aos eventos como a CCXP.
A participação das mulheres nessas publicações tem possibilitado que certos elementos tão característicos das nossas vivências confiram verossimilhança e sensibilidade às narrativas sem comprometer a essência dos personagens de Maurício de Sousa, como o que ocorreu em Tina: Respeito (2019), da Fefê Torquato, que abordou a questão do assédio no trabalho, por exemplo. Sobre a importância da personagem, que sempre teve um apelo maior entre jovens adultos, ela diz:
Ela é a primeira protagonista adulta, no mundo real. Tratando de assuntos reais e atuais. Acho significativo que os questionamentos que estamos levantando com o movimento feminista fora e dentro dos quadrinhos, estejam enfim chegando à personagens populares. É mais um alicerce que é levantado rumo a construção de um futuro mais equilibrado. *
Já na época da primeira Graphic algumas discussões foram levantadas nas redes sociais acerca da ausência do nome da colorista Cris Peter na capa, uma vez que ela é uma artista premiada e muito conhecida por seu trabalho, mas não há um consenso no meio editorial de quadrinhos sobre isso. Curiosamente também, essa é uma área da produção em que muitas mulheres têm se dedicado, trazendo destaque para a categoria.
Mas a primeira autora de uma Graphic MSP foi a Lu Cafaggi, que em parceria com seu irmão Vitor, produziu a trilogia da turma da Mônica que deu origem aos filmes mais recentes dos personagens de quadrinhos mais amados do país: Laços (2013); Lições (2015) e Lembranças (2017). Lu é conhecida pela doçura que consegue imprimir à sua arte e cada trabalho seu é de tirar o fôlego.
Em 2016 foi a vez da escritora Marcela Godoy escrever uma narrativa em tom de terror para o personagem Papa-Capim: Noite Branca. Desenhada por Renato Guedes, a história explicita a formação e o repertório da Marcela ao trazer referências de clássicos de nossa literatura para narrar o terror que assombra um dos povos originários apresentados na HQ.
Também em 2016, Mônica: Força, de Bianca Pinheiro, nos apresentou uma Mônica preocupada com a possível separação de seus pais e o tom dramático indicou que a nossa personagem tão fortona, precisaria dispor de um tipo de força que não estamos acostumados a vê-la usando: a emocional. Mas, em 2019, com Mônica: tesouros, Bianca trouxe uma proposta de aventura que só confirma sua versatilidade como quadrinista, pois consegue transitar entre o suspense e o terror, como em Alho-Poró, com a mesma facilidade com que parece se divertir muito em Bear e Expedição 43, HQ digital produzida com Greg Stella. E no ano que vem, teremos a terceira graphic da Mônica produzida por ela.
Em Penadinho: Vida (2015) e Penadinho: Lar (2020), Cris Eiko empresta toda sua sensibilidade aos personagens com maior potencial para questões existencialistas depois de Horácio. Vida e morte são usadas como metáforas para abordar temas como amor, separação, pertencimento… e ambas foram produzidas em parceria com o quadrinista Paulo Crubim.
Cora Ottoni dá vida à divertida Denise, em Denise: Arraso (2022). A blogueirinha do bairro do Limoeiro se vê às voltas com dilemas típicos dessa geração que já nasceu na era dos dispositivos digitais e Cora usa toda a desenvoltura da nossa pequena diva para abordar temas sérios como autoestima e excesso de tempo de tela entre os pequenos.
Já o trabalho de Ana Cardoso em HQs como Quando você foi embora e We Pet, lhe rendeu o convite para narrar a história do gatinho Mingau, adotado pela Magali. Em Mingau: Apego, nós acompanhamos a trajetória do gatinho a partir de sua perspectiva. Sobre toda expectativa e o processo criativo que se deu em meio à pandemia de COVID-19, Ana me contou que apesar de ter tentado não criar muitas expectativas, já que era a primeira vez que estava trabalhando com um personagem de uma grande editora, recebeu feedbacks muito bons durante a CCXP22 e comentou que a grande procura que notou, foi confirmada pela Panini que vendeu muitos quadrinhos do Mingau nos 4 dias de evento.
Quanto aos anúncios das próximas graphics durante a CCXP22, termos mais uma edição da Mônica com a Bianca Pinheiro e a primeira Graphic da Magali pelas mãos da Carol Rossetti. Carol, que é conhecida por trabalhos engajados sobre gênero como em Cores, me contou que Magali seguirá a tendência de sua produção que costuma ser aquarelada. Apesar de entender a grande responsabilidade que é ter um personagem de Maurício de Sousa sob sua tutela, ela está super animada.
No total, entre as HQs publicadas e as recém-anunciadas, elas somam 42 títulos, dos quais apenas 8 possuem autoria feminina (sem contar as coloristas como a Cris Peter e a Paula Markiewics). Então, deixo aqui a dica para o querido editor e amigo Sidney Gusman que traga ainda mais diversidade para o selo oferecendo às mulheres possibilidades que subvertam o que geralmente é esperado de nós. Por que não uma história do Cascão ou do Rolo contada por uma mulher (Cis ou Trans), por exemplo?
Que tenhamos cada vez mais histórias para nos emocionar e vibrar contadas por pessoas diversas.
* Fonte: Mulheres e Quadrinhos, ed. Skript, 2019.
Daniela Marino é pesquisadora de quadrinhos e questões de gênero, graduada em letras, mestre em comunicação e doutoranda em ciência da informação.
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Dani Marino é especialista em histórias em quadrinhos e questões de gênero. Mestre em Comunicação e doutoranda em Ciência da Informação pela ECA/USP, também atua como professora de Literatura Inglesa. Ganhadora de 2 troféus HQMIX com o livro Mulheres e Quadrinhos, que organizou com Laluña Machado, já colaborou com diversos sites e canais especializados em cultura pop.