Eu, não binárie?
Em sua nova coluna, Vitorelo conta sobre o processo de se descobrir uma pessoa não binária e propõe uma reflexão sobre os papéis de gênero
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Em sua nova coluna, Vitorelo conta sobre o processo de se descobrir uma pessoa não binária e propõe uma reflexão sobre os papéis de gênero
Quanto mais se fala sobre ser não binário, mais pessoas começam a se perguntar: será que eu sou não binária?
Para mim, sempre foi muito claro: o que me incomodava, na verdade, era ser forçada a uma categoria que definiria todas as expectativas que teriam ou não em relação a mim. Então quando me deparei pela primeira vez, ainda na adolescência, com a descrição de uma identidade não-binária, eu soube com muita naturalidade que aquele termo dizia respeito a mim: ele me descrevia, sem em nenhum momento me cobrar por expectativas, performances e normas sociais. Claro, passar a se identificar com esse termo publicamente era uma outra história – porém, o fato é que eu sempre soube e sempre senti o que eu era; ou melhor, o que eu não era. O que me faltava era vocabulário.
Mas não é assim pra todo mundo.
Sei que nem todos têm um ombro não binário à disposição para conversar a respeito de suas próprias dúvidas, mas talvez esse texto possa dar alguma direção para você, que deve estar cheio de vontades e mais ainda de hesitações. Ou talvez só esteja curioso. Vem comigo:
Eu resolvi me assumir enquanto pessoa não binária quando eu percebi que o mundo estava se tornando um lugar politicamente insuportável. Eu sempre pensei que teria sido ótimo nascer em um futuro ideal, onde ser uma pessoa de gênero neutro fosse completamente aceito – até que me dei conta de que só o agora é possível e nada mais. E se, ao ser quem eu quero ser, a minha própria existência tiver a capacidade mágica de emputecer alguns transfóbicos conservadores, eu só tenho a ganhar. Tive muito medo e vergonha de antemão: de mudar de gênero, de nome, de corpo, de roupa. Na verdade, eu sempre tive muito medo de errar, em toda situação, principalmente social. Tenho a constante sensação de que todo mundo recebeu o manual de instruções, menos eu. E, não importa o quanto eu tente, não consigo acertar.
Mas no fim, o alívio é constatar que, se é impossível acertar, é impossível errar também. Ninguém sabe o que está fazendo. A única coisa que se pode fazer é olhar para dentro e constatar sua própria felicidade – e isso só é possível se você tentar.
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*”Cistema” é um neologismo que vem da palavra “sistema” com a corruptela “cis”, em contraposição a “trans”; se refere ao sistema social e institucional transfóbico.
Vitorelo é artista, autora de TILT (finalista Prêmios Dente e Grampo), sobre enxaqueca crônica e saúde mental, Tomboy (Mostra Diversa do Museu da Diversidade Sexual), sobre performance de gênero, e Lilibel, sobre demônios condenados ao inferno paulistano. Seu trabalho autoral faz uso de experimentações gráficas e narrativas. Semioticista, pesquisa quadrinhos experimentais, resistência política e gênero. Siga: @vitorelo.art
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Vitorelo é artista, autora de TILT (finalista Prêmios Dente e Grampo), sobre enxaqueca crônica e saúde mental, Tomboy (Mostra Diversa do Museu da Diversidade Sexual), sobre performance de gênero, e Lilibel, sobre demônios condenados ao inferno paulistano. Seu trabalho autoral faz uso de experimentações gráficas e narrativas. Semioticista, pesquisa quadrinhos experimentais, resistência política e gênero. Siga: @vitorelo.art