Precisamos falar sobre Ing Lee
A artista mostra sua versatilidade ao desenvolver colagens e cerâmicas, criar capas e ilustrações para livros e empresas, e aliar arte e pesquisa
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A artista mostra sua versatilidade ao desenvolver colagens e cerâmicas, criar capas e ilustrações para livros e empresas, e aliar arte e pesquisa
Nos últimos anos, muitas artistas brasileiras têm reascendido em mim o amor pelos quadrinhos. Mas poucas me tocam no âmbito do sensível, ou são capazes de me arrancar lagrimas. O que posso dizer, sou um tanto quanto seca. Por isso, nunca vou me esquecer de chorar ao ler “Ao meu eu criança”, de Ing Lee. Até hoje não sei ao certo o que tanto me tocou na história. Talvez a lembrança de experiências semelhantes. Conheci o trabalho da artista no Instagram em 2020, e desde então estou viciada em seus traços sensíveis e cores vibrantes.
Bacharel em Artes Visuais pela escola de Belas Artes da UFMG, Ing Lee é uma artista plástica, ilustradora e quadrinista mineira surda oralizada, que transita pelo cenário independente dos quadrinhos brasileiros desde 2018. Em suas produções, segundo palavras da própria artista, “gosta de criar intuitivamente contrastes em justaposições de cores vibrantes e incorporar narrativas contidas nos detalhes”, e devo dizer, faz isso com maestria.
Sua atenção aos detalhes e escolhas cromáticas dão aos seus trabalhos uma relação interessante entre as cores, que funcionam como um convite ao leitor. E sua sensibilidade ao tratar os temas que a movem, aliada ao seu estilo artístico, me emocionam a cada quadrinho lido. Isso sem falar na rica experiência cultural que sua produção nos proporciona.
De ascendência norte-coreana, Ing não foi criada dentro de uma comunidade coreano-brasileira, o que instiga na quadrinista uma necessidade de resgate de sua origem e da história político e cultura das Coreias. Não por acaso, suas criações falam de memória, identidades e cultura do leste asiático. Entre suas referências, estão as artes de propaganda e arquitetura norte-coreanas e o cinema e literatura sul-coreanos. É o cinema, também, que a artista credita como fonte de inspiração para a construção de “frames” e planos de imagens de seus trabalhos.
Em fevereiro de 2023, produziu duas histórias em quadrinhos sobre os 60 anos da imigração coreana no Brasil, em parceria com o SESC Avenida Paulista. Uma aula de história e ancestralidade. Também em 2023, começou “João Pé-de-feijão”, um projeto quinzenal em parceria com a Playground Brasil no qual produz tirinhas autobiográficas, ao nos introduzir ao universo particular de seu relacionamento com o irmão caçula, Joãozinho, que é uma criança autista. Um projeto sensível, necessário e carregado das cores e detalhes particulares a Ing Lee.
Em 2022, foi uma das convidadas do FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), onde foi palestrante e falou sobre seu trabalho e processo criativo como artista de quadrinhos. Autora de produções solos como “Ao meu eu criança” (2021), “Karaoke Box” (2019), “Comida de Conforto” (2019), dentre outros, Ing Lee também tem quadrinhos em coletâneas como “Geum” em “Histórias Quentinhas sobre existir” (2020) e “Que se exploda” em “Capsula” (2019).
Mais do que isso, a artista mostra sua versatilidade ao desenvolver capas e ilustrações para livros e empresas, explorar o pensamento da colagem e seu hibridismo em diversas linguagens artísticas, além de aliar arte e pesquisa tanto em suas ilustrações e quadrinhos quanto ao se dedicar a produções em cerâmicas, tendo pesquisado cerâmicas coreanas durante a residência artística do programa Bolsa Pampulha (Belo Horizonte/MG, 2022).
Como se todo o seu talento não fosse suficiente, Ing Lee ainda integrou a turma de 2022 do programa Amigos da Embaixada da Coreia, como promotora da cultura coreana no Brasil, é co-fundadora do selo editorial e eixo de experimentação gráfica O quiabo, e faz parte do Mitchossó, coletivo da diáspora coreana da casa do povo.
Digo isso com convicção: depois de conhecer o trabalho da artista, sou capaz de identificar seus traços e experimentalismo cromático em qualquer produção. Não há como conhecer seu trabalho e não se tornar fã. Estou ansiosa para ver o que mais você nos reserva no futuro, Ing!
Você pode acompanhar a artista no seu Instagram @inglee e conferir seus trabalhos no site: https://www.inglee.art/
Nara Bretas é pesquisadora de quadrinhos no digital desde 2012 e Doutora em Estudos de Linguagem (PosLing) pelo Centro Federal de Educação Tenológica de Minas Gerais (CEFET/MG), onde trabalhou com as temáticas: Mulheres e Quadrinhos no Brasil, Narrativas de Vida, Análise do Discurso e Feminismos. Jornalista, Licenciada em Letras e admiradora das HQs desde muito nova, Nara ama quadrinhos cotidianos e surtadas ocasionais.
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