Um desejo de resistir
Conversamos com a quadrinista francesa Chantal Montellier, que esteve no Brasil para a Bienal de Quadrinhos de Curitiba de 2023
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Conversamos com a quadrinista francesa Chantal Montellier, que esteve no Brasil para a Bienal de Quadrinhos de Curitiba de 2023
Um dos grandes nomes dos quadrinhos franceses, Chantal Montellier esteve no Brasil para a Bienal de Quadrinhos de Curitiba de 2023. De tiras em jornais a extensas graphic novels, a autora é referência na arte política. Confirma conversa que tivemos com ela durante o evento:
Sim, nós sempre estamos à frente do nosso tempo. As feministas estão sempre à frente do tempo e o tempo está sempre atrasado. Então, a pergunta é como nós podemos para que o nosso tempo chegue logo? Eu acredito que, a longo prazo, é preciso um trabalho não somente do movimento feminista, como também um grande trabalho político, dos representantes políticos. É preciso entender que isso não afeta só as feministas, afeta a sociedade como um todo. E a maioria dos políticos são homens, homens que estão constantemente tentando atrasar direitos. Por isso é tão importante a presença de mais mulheres na política.
Não faço histórias em quadrinhos documentais, ou raramente as faço, mas o que eu produzo está ligado à atualidade. Eu deixei de ensinar desenho nos anos 70 para poder focar na minha criação. Então, deixei de ganhar a vida sendo professora para ser desenhista no ramo político da imprensa, para jornais tanto focados em política quanto em temas gerais. Ou seja, eu trabalhava a partir de fatos e notícias da atualidade envolvendo a política mundial.
Enquanto desenhista, acho que isso é parte da minha identidade artística e me considero uma pioneira na arte de cunho político. Na época, as artistas ainda estavam muito focadas em ilustração infantil. Então, meus quadrinhos foram muito influenciados por essa experiência quando passei a escrever ficção. Ou seja, a realidade ia acontecendo, e essa realidade alimentava a ficção. E assim, a ficção podia ser um reflexo da vida, as distopias do meu imaginário projetavam o futuro do cotidiano do momento em que eu vivia, é uma ficção sempre ancorada na realidade.
Acho que meu trabalho e o tema do evento estão muito ligados. Minha arte está intrinsecamente ligada a essa temática. Quando comecei, na década de 70, era um mercado tomado por homens. Havia uma ou outra exceção, mas as mulheres eram minoria. E nessa época, as histórias em quadrinhos eram muito de direita, ou então “indefinidas” mas ainda muito machistas. Era o caso do Charlie Mensuel, que não era um jornal de direita, mas era bastante reacionário e por muitas vezes muito machista.
Na imprensa política, eu era a única mulher a de fato trabalhar com cartuns políticos. Evidentemente, continuar esse trabalho era uma forma de resistência. Também acontecia algo que era quase conhecimento comum, que mulheres escreviam histórias autobiográficas, pessoais, e não políticas. E eu cheguei com outras ideias na cabeça, com outro contexto social, com uma abordagem diferente da sociedade. Então, essa temática e minha carreira dialogam muito, muito, muito, muito. Adentrar um mercado hostil requer um desejo de resistir e de poder contar histórias.
Gabriela Güllich é matogrossense criada na Paraíba. Contadora e desenhadora de histórias, é formada em Jornalismo pela UFPB, atua como quadrinista, jornalista e os dois ao mesmo tempo. Autora de Quatro Cantos de um Todo, HQ publicada pelo Sesc Paraíba em 2018, e São Francisco (Gabriela Güllich/João Velozo), livro-reportagem em quadrinhos e fotografia com narrativas do sertão e do Velho Chico, lançado em 2019. Siga: @fenggler
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