Resenha: Batatinha Fantasma
Os exemplos que a gente não vê: gibi de Filipe Remédios e Carol Borges fala sobre amor por meio das histórias em quadrinhos
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Os exemplos que a gente não vê: gibi de Filipe Remédios e Carol Borges fala sobre amor por meio das histórias em quadrinhos
Demorou pra eu entender o que é um relacionamento saudável. Talvez porque meu pai faleceu quando eu tinha 14 anos e eu perdi essa referência dentro de casa. Talvez porque as outras referências que eu encontrei, as comédias românticas, os filmes, os livros, todos mostravam relacionamentos romantizados entre pessoas lindas, de corpos perfeitos, e mulheres que jamais, em tempo algum, peidam na frente dos seus respectivos. Talvez porque nós, mulheres, recebemos uma enxurrada de regras de como temos que ser, de como temos que agir para que os namorados gostem da gente, das posições que eles gostam, da roupa que eles gostam, da unha que eles gostam.
Ou até porque, nesse meu caminho, poucos dos homens com quem me relacionei pensavam diferente disso. A maioria acreditava que as mulheres estão ali tentando agradá-los – e agarrá-los e prendê-los – e que, por sua vez, eles não precisam fazer muito de volta, aliás, não precisam fazer nada. Dê uma olhada num pornô qualquer e você verá como mulher goza fácil.
O resultado dessa salada de influências era eu saindo de salto quando não tinha vontade com caras que reparavam se eu passei ou não esmalte. Vivia numa constante sensação de estar segurando a onda, eu não podia relaxar. Não estava ali no papel da mulher do Don Draper, mas tava no papel da moderna empoderada, que trabalha e é boa de cama, pinta a unha e arruma o cabelo, a que não ronca, não tem olheiras e ainda sabe discutir a última crise no governo.
A terapia, a vida, as conversas com as amigas foram me fazendo ver que um relacionamento saudável não era bem assim. Uma amiga, mãe recente, me contou sobre estar transando, o leite espirrar, o parceiro e ela caírem na risada, continuarem transando. Outra falou de uma competição de arroto com o namorado. Na minha busca por melhores exemplos, ouvi sobre muitas formas de amar que não eram iguais às de novela. (E aqui devo dizer que encontrei muito mais gente assim, à vontade, em relacionamentos homossexuais, mas isso é todo um outro tema).
Eis que a Gabi Borges, editora da Mina de HQ, me convida para conhecer Batatinha Fantasma – Amor em Quadrinhos, um compilado de tirinhas sobre o cotidiano do casal de ilustradores Carol Borges e Filipe Remédios.
Para minha grata surpresa, encontrei no livro um relacionamento saudável ilustrado.
Carol e Filipe (às vezes repreendido pela namorada gritando seu sobrenome, Remédios!!) aparecem em traços arrendondados, coloridos, amigáveis. Como todo e qualquer casal, eles fazem suas refeições juntos, maratonam séries, transam, conversam. Eles se amam e se divertem, têm caibra fazendo sexo, ficam com intestino preso, falam de absorvente feminino, menstruação, política, ET Bilu e o estranho costume de fazer fila na porta do cinema quando se tem ingresso com lugar marcado.
Algo tão raro num mar ainda vigente de exemplos fora de realidade que mal tinha lido três páginas já estava convencida que vale dar de presente para qualquer amiga que vive com boy lixo, qualquer sobrinha ou sobrinho adolescente, qualquer amigo que não tenha ideia do que é uma mulher na vida real.
Afinal, tem algo mais saudável que ser você, mesmo a dois?
Clique aqui e compre um exemplar de Batatinha Fantasma – Amor em quadrinhos.
Kel Spinelli é roteirista e documentarista. Vencedora de dois editais PROAC 2019 para produção do documentário Dançarinos de Aluguel e desenvolvimento do roteiro do drama As Origens. Dirigiu e roteirizou dois curtas-metragens premiados em editais: A Festa da Joana e Parece Comigo. Foi coordenadora de conteúdo, editora e pesquisadora de programas de televisão por diferentes produtoras paulistanas. Tem paixão por personagens femininas e projetos que abordam questões de gênero. Siga: @kelspinelli
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