Uma história pra meninos e meninas
Na webcomic “O Pescador de Tesouros”, Didi Mamushka aborda exemplos de masculinidade positiva por meio da fantasia
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Na webcomic “O Pescador de Tesouros”, Didi Mamushka aborda exemplos de masculinidade positiva por meio da fantasia
Demonstrar afeto, fragilidade e solidão não é uma prática tão comum entre os homens, ainda mais em quadrinhos. Mas o que isso tem a ver com a obra da Didi Mamushka? Bom, prepara-se para conhecer essa história fantástica chamada O Pescador de Tesouros.
O mar, a criatura mais velha do que o tempo, reuniu todo o sal que vieram das lágrimas dos humanos. Com isso, juntou todos os seus melhores desejos, transformando grãos de sal em pequenos tesouros. Podemos dizer que eram semelhantes a balas, que ao serem consumidas, algo de bom era realizado na vida das pessoas.
Existiam tesouros como “Canção de Ninar”, “Sorriso Desdentado”, “Piada de Gente Velha”, “Miado de Gato” e entre muitos outros. Com a popularidade dessa novidade, as pessoas começaram a criar táticas para pescá-los e assim foram surgindo os “pescadores de tesouros”. Os que tinham mais recursos, conseguiam pescar os melhores grãos mágicos de sal. Mas como tudo na vida, isso caminhou para um destino diferente.
A distribuição de tesouros, que antes era uniforme e de forma gratuita, agora era comercializada. O que tornou muito mais difícil de encontrar tesouros relativamente bons por um preço acessível. E foi assim que o mundo caiu novamente em plena desgraça.
A história se passa em volta do pescador muito humilde chamado Povero. Rapaz simples e com pouca sorte, era um pescador um tanto diferenciado. Pescava os piores tesouros, ou seja, os que eram considerados comuns, e trocava por qualquer migalha que as pessoas aceitavam dar. Com as suas vendas fracassadas, Povero estava certo de que deveria desistir daquilo. Mas como nada é por acaso, o encontro com Umille, um vendedor de pães, faz a vida dele mudar de uma forma muito diferente.
Contra todas as expectativas de Povero, o Umille aceita trocar pão pelos pequenos tesouros, o que salvou o pescador da fome que ele sentia há dias. Mas Umille não procurava por qualquer um, ele procurava por um Milagre, o mais raro tesouro que poderia existir. Para resgatar é preciso mergulhar no profundo Mar e pedir diretamente a ele por um milagre. Se ele achar que você é merecedor, o mar deixa você sair de lá intacto ou então você ficará lá para sempre.
Obviamente Povero não tinha esse milagre para vender, então Umille se contenta em levar o “Miado de Gato”. Isso acabou virando rotina e ali foi se formando uma ingênua e grande amizade entre os dois. Uma amizade entre meninos que em outros quadrinhos não vemos com frequência.
Todos os dias Umille passava pela barraca do pescador e levava um tesouro inútil em troca de um pão delicioso. Povero foi acolhido de uma forma muito carinhosa, algo que ele nunca imaginaria que acontecesse.
A história se torna muito linda e profunda quando Povero descobre o verdadeiro motivo por aquela busca por um Milagre. O padeiro Umille deseja de todo o coração salvar sua pequena irmã de uma doença praticamente incurável. Ele acreditava que só com o Milagre isso poderia ser revertido. Umille não teve medo de se mostrar vulnerável na frente do Povero, o que nos faz refletir porque meninos não sentem segurança para se mostrarem frágeis?
A obra de Didi Mamushka consegue provar o contrário sobre o estereótipo que pregam há anos em relação a masculinidade. Ser sensível, demonstrar fragilidade ou chorar, não te faz mais ou menos homem. Só comprova que você é humano como todos os outros. Ao ler O Pescador de Tesouros, você pode notar que a pintura em aquarela traz uma experiência única de leitura.
As cores suaves e claras combinam com o clima praiano que a história é envolvida. Os traços dos desenhos são únicos e muito marcantes, principalmente as expressões dos personagens. A disposição dos balões traz também uma dinâmica diferente para a leitura, o que nos envolve ainda mais pela história contada ali. Por fim, Didi Mamushka conseguiu juntar uma história incrível e tocante com uma arte formidável!
Foi uma bela resposta para quem acha que exista histórias de meninos e de meninas. Didi conta que certa vez foi impactada por um garotinho que a abordou em um evento, perguntando se ela não tinha histórias de “menino“ para vender:
“Fiquei atônita por alguns segundos. Nunca havia me questionado sobre livros de menino. Na minha cabeça, qualquer livro pode ser de menino ou de menina. E foi o que respondi: ‘Todos os meus livros são livros de menino, querido menino’. O menino se afastou de mim sem nem ao menos tocar um único quadrinho. Aquilo me frustrou tanto que eu decidi fazer um ‘livro de menino’”, explica.
Então, O Pescador de Tesouros é dedicado a esse menino anônimo, que encucou na autora o desejo de fazer um “livro para meninos”.
Essa obra é carregada de ensinamentos e muita emoção. Pequenos tesouros podem mudar as nossas vidas e devemos valorizar todas as coisas boas que nos acontecem.
O Pescador de Tesouros foi criado entre os anos de 2018 e 2020, sendo publicado em formato webquadrinhos entre 2020 e 2021 nas plataformas Tapas e Webtoon. O projeto cresceu e no mês de abril foi aberta a campanha de financiamento coletivo pelo Catarse. A realização do e-book de 224 páginas terá um conteúdo revisado, colorido e com MUITOS extras bem interessantes como tesouros adicionais, uma galeria de artistas no final do livro, textos complementares de convidados e da própria autora.
Você pode apoiar O Pescador de Tesouros até dia 09/06 por aqui e seguir Didi Mamushka em @didimamushka
Jeyce Ribeiro é publicitária de formação e designer de coração. Uma nerd assumida que ama escrever. Disfarça consumismo comprando HQ e mangás como se tivesse limite no cartão. Acredita que vídeos de gatinhos são melhores que humanos, que Grifinória é a melhor casa e que Ross traiu Rachel sim! Coleciona histórias e as transforma em arte. Siga: @ilustra.jey
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