A nova geração Marvel é não-branca
Sâmela Hidalgo fala sobre a importância das heroínas não-brancas da Marvel para a representatividade das novas gerações de leitoras
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Sâmela Hidalgo fala sobre a importância das heroínas não-brancas da Marvel para a representatividade das novas gerações de leitoras
Chegou meu momento de brilhar, pois finalmente falarei sobre minhas heroínas da atualidade. ❤️
Desde que a Sana Amanat, editora-chefe, chegou à Marvel muitas coisas foram mudando, principalmente em questões de representatividade e representação dos personagens.
E, bem…. tava na hora, né? A nova geração de leitoras da editora pode se imaginar em várias dessas heroínas, especialmente, as leitoras não-brancas de todas as idades.
Kamala Khan, a Ms. Marvel
Se você ainda não ouviu falar da maravilhosa-perfeita-sensacional Kamala Khan, então aguarde um pouquinho mais, porque a série sobre a heroína mais rentável da nova geração já já chega ao mundo.
Mas, apresentando rapidamente a você: Kamala tem 16 anos, é filha de pais imigrantes paquistaneses, adora escrever fanfics sobre os seus heróis favoritos – em especial os Vingadores. Foi integrante dos Vingadores, é líder da Equipe Campeões, joga World of Warcraft, é muçulmana e é a maior heroína de Nova Jersey. Em suas HQs, ela traz, além de aventuras e tiradas engraçadas, várias reflexões sobre a relação dela com sua própria religião: o islamismo; a vivência de ser uma adolescente marrom asiática em um país que não lida muito bem com imigrantes – principalmente depois do 11 de setembro -, e dúvidas sobre pertencimento. Em um de seus arcos mais emblemáticos onde ela vai se reencontrar na sua terra natal, ela fala: “Em Nova Jersey me sinto deslocada porque sou paquistanesa demais. Aqui (no Paquistão), me sinto deslocada por ser americana demais”. Essa sensação de não se encaixar em lugar nenhum, é algo que muitas pessoas que possuem dupla-nacionalidade sentem. E em Ms. Marvel, essas pessoas podem finalmente ter suas vivências representadas. Além de tudo, a heroína ajudou a combater a Islamofobia nos Estados Unidos na vida real.
America Chavez, a Miss America
Falar da Ms Marvel nos leva a falar da Ms America. Não somente por terem “Miss” nos seus codinomes. Mas por America Chavez também representar uma boa parte dos leitores de quadrinhos de heróis: os latinos. E melhor: mulheres latinas. E mais um adendo: uma mulher latina heroína assumidamente lésbica. Apesar de ter sido criado por suas duas mães no universo paralelo, suas raízes são claramente latinas terráqueas. Nas mãos da autora Queer Gabby Rivera, que é latino-americana, Chavez consegue transitar entre os multiversos através de chutes que abrem portais em forma de estrela, tem super-força, voa, velocidade sobre-humana, invulnerabilidade física, foi líder dos Jovens Vingadores e integrante da equipe Supremos. Assim como o Capitão América, ela tem um senso de justiça e sempre segue sua ética. A diferença mesmo é que ao contrário de Steve Rogers, America não é conhecida por ter paciência e um pavio muito grande. E, eu, particularmente me identifico demais com esse tipo de personalidade – confesso.
Lunella Lafayette, a Moon Girl
Tony Stark? Bruce Banner? Amadeus Cho? Pff…. nada! Com apenas 9 anos, a inumana Lunella Lafayette é uma das mentes mais inteligentes da história da Marvel. A pequena gênia traz uma representatividade gigantesca para as crianças negras leitoras de super heróis de todo o mundo. Com a ajuda de seu dinossauro vermelho, Lunella assume o codinome Moon Girl para lutar contra seus inimigos usando a ciência e a ligação psíquica que tem com seu parceiro dino. De ascendência Afro-americana, conseguimos acompanhar o dia a dia da pequena Moon Girl com seus pais, na escola e também lutando contra os perigos e vilões de Nova York.
Criada em 2015, a personagem já está fazendo a diferença na vida de muita gente, até mesmo da desenhista da série: Natacha Bustos, que é uma artista negra espanhola proveniente de uma família bi racial. Conseguimos ver em seu traço, como a personagem Moon Girl tem muito da vivência de Natacha. E isso… segue inspirando muitas outras pessoas por aí.
Amka Aliyak, a Snowguard
Tá, sei que olhando pra imagem da personagem, vocês devem estar confusos por ela fazer parte dessa lista. Mas calma! A Amka é uma personagem indígena Inuk (ou Inuítes), a nação que vive nas regiões árticas do Canadá. Apresentada em 2018, na série Os Campeões, Amka é resgatada por Ms. Marvel e sua turminha da pesada, quando ela invade uma base científica pra averiguar o objetivo da empresa em reparar os danos nas geleiras causados pelo aquecimento global. Lá, ela encontra a entidade Inuíte Sila, que está aprisionada. Numa grande explosão, parte do espírito de Sila cura Amka e ela é impactada pela energia da entidade, ganhando assim seus poderes. Ela pode canalizar a energia espiritual da Aurora Boreal e também pode se transformar em partes ou completamente em animais selvagens ou até se transformar em vários animais de uma vez só. Depois dessa aventura, Amka começa a fazer parte da Equipe Os Campeões.
Ah, e lembrando que: colorismo não se aplica à indígenas. Por isso, a Amka faz parte dessa lista, porque ela é definitivamente uma personagem não-branca da Marvel!
Antes, de terminar, quero deixar duas menções honrosas aqui: Riri Williams (Coração de Ferro) e Shuri, princesa de Wakanda! ❤️
E que venham cada vez mais personagens que possam representar todo o universo de leitoras fantásticas que temos.
Shuri, a princesa de Wakanda (Imagem: Marvel Comics)
Riri Williams, a Coração de Ferro (Imagem: Marvel Comics)
Sâmela Hidalgo é manauara, editora de quadrinhos, consultora editorial, trabalhou na Devir Brasil por 4 anos e meio como assistente editorial e assessora de imprensa, podcaster no DFP (devíamos fazer um podcast), produtora Editorial no Stúdio Eleven Dragon, colunista no site Minha de HQ e idealizadora do projeto Norte em Quadrinhos que visa dar visibilidade para quadrinistas do Norte do país.
Siga: @samelahidalgo e @norteemquadrinhos
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