Quadrinistas se posicionam sobre a megaexposição “Quadrinhos”, no MIS
A mostra vem sendo considerada a maior já realizada no Brasil sobre o tema, mas ignorou mulheres mundialmente importantes na história dos quadrinhos
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A mostra vem sendo considerada a maior já realizada no Brasil sobre o tema, mas ignorou mulheres mundialmente importantes na história dos quadrinhos
Tenho falado muito nos canais da Mina de HQ sobre a falta de representação e presença de artistas mulheres na exposição Quadrinhos, que está em cartaz no Mis – Museu da Imagem e do Som, até o fim de Maio, em São Paulo.
A mostra vem sendo bastante criticada por ter pouca diversidade entre os trabalhos expostos, ainda mais por ser considerada “a maior exposição de quadrinhos já feita no Brasil”. Tem pouquíssimas mulheres, LGBTs, negros e pessoas não-binárias. Não havia nenhuma referência a nomes mundialmente importantes na história dos quadrinhos, como Alison Bechdel, Claire Bretécher, Trina Robbins, Emil Ferris (premiadíssima pelo livro Minha coisa favorita é monstro e que foi capa do caderno Ilustrada dia 23/02, no jornal Folha de São Paulo), Pagu ou Ciça Pinto. Três meses de exposição e não havia nenhuma mulher no espaço erótico, sendo que há trabalhos importantes feitos por mulheres, como Aline Crumb, Lovelove6 e Giovanna Casotto. Para citar poucos exemplos.
Levei essa reflexão ao curso “Quadrinhos: Gênero e Representação”, que coordenei em fevereiro dentro da programação da mesma exposição – inclusive, abri aula para três convidadas e fiz uma visita comentada pela mostra com os alunos. Fiquei muito feliz em ter a oportunidade de dar um curso sobre o tema dentro da programação da exposição – o que mostra uma abertura do museu para esse tipo de discussão. Eles abriam espaço para um curso de oito aulas que é uma extensão do trabalho político que a Mina de HQ vem realizando há quatro anos de pesquisa e divulgação de quadrinhos feitos por mulheres, pessoas trans e não binárias. E, justamente por isso, seria incoerente não me posicionar sobre a invisibilização do trabalho de artistas mulheres nesta que é considerada a maior e mais importante exposição de quadrinhos feita no Brasil.
Faço parte de um grupo de mulheres quadrinistas e jornalistas da mídia especializada que há anos se reúne para discutir a representatividade no mercado brasileiro de quadrinhos e trocar ideias sobre oportunidades de trabalhos, participação em eventos etc. No dia 23 de fevereiro, enviamos uma carta ao Mis, com um posicionamento oficial para que haja uma reflexão sobre o que ainda faz com que curadores “deixem passar” a preocupação com a diversidade e a representação, e perpetuem este tipo de machismo, por melhor que possa ser a intenção. Foi publicado um texto oficial desse movimento sobre a exposição no site Minas Nerds. Também dei uma entrevista para o Brasil de Fato sobre isso.
Como parte do movimento, várias quadrinistas de São Paulo realizaram a ação #CadêAsMinasNoMis, que incluiu “plantar” alguns quadrinhos pela exposição. Como resposta, a organização inseriu algumas HQs no começo de abril. Acontece que a exposição foi inaugurada cinco meses antes, em novembro de 2018, e já tinha sido visitada por mais de 100 mil pessoas, que não chegaram a ver esses (poucos) trabalhos inseridos tardiamente.
A lição que fica é: precisamos cada vez mais criar nossas próprias oportunidades e espaços para depender cada vez menos das instituições tradicionais e machistas. Quem está, efetivamente, no nosso lado? Vamos juntxs.