Resenha: Boa Sorte
Carolina Nalon escreve sobre o romance gráfico de Helena Cunha e sua narrativa sobre luto, família, desilusões e se descobrir lésbica
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Carolina Nalon escreve sobre o romance gráfico de Helena Cunha e sua narrativa sobre luto, família, desilusões e se descobrir lésbica
Sou aquela pessoa que aprendeu a ler com os gibis da Turma da Mônica, mas infelizmente meu conhecimento de quadrinhos tinha parado por aí. Até eu conhecer a Gabi [Borges, criadora da Mina de HQ – e esposa da Carol <3]. Lembro de chegar na casa dela e encontrar uma estante inteira só de quadrinhos, e melhor todos: feitos por mulheres! Ela me apresentou para esse mundo e na cabeça dela já existe uma lista feita de todos os quadrinhos que preciso ler. Bem, o último que ela me indicou foi o Boa Sorte, da Helena Cunha.
Que coisa mais gostosa que é ler um quadrinho. Tantas coisas são ditas através do desenho…a gente de fato consegue ler mais rápido, pois em geral tem menos texto. Mas, nossa, como é gostoso parar para apreciar o sentimento que as cores e os traços trazem.
Boa Sorte trata de muitos assuntos que foram presentes na minha vida ou que me tocam profundamente.
O primeiro deles é de que um dos maiores medos que tenho na vida é o de perder meus irmãos. A história de Julieta, personagem principal, acontece logo depois que da morte trágica de sua irmã. O tom do livro é marcado por isso, e o desenvolvimento da trama familiar também. De certa forma é bonito ver o desdobramento do luto dela ao longo do livro. Uma coisa forte, triste e bonita, sabe?
Em meio ao luto, ela também passa por alguns desafios enquanto adolescente e lésbica. Muito doido ver que ela teve dificuldades em se assumir mesmo para os amigos gays, e a maneira como ela vive vários amores platônicos em sua jornada. Gente, eu fui a rainha dos amores platônicos na adolescência. Cheguei a achar que nunca daria certo ficar com mulheres na vida, que seria complicado demais, e uma vontade de abraçar a Julieta a cada pequena desilusão, a cada momento que ela interpretou o sinal da amiga como um algo a mais.
A leitura do livro me trouxe uma frase que vou usar para vida: “você me faz sentir…elétrica”.
Felizmente, Julieta, eu também sei como é se sentir assim. E é sempre bom saber que depois de um luto e de tantas desilusões essa eletricidade continua pulsando em nós.
Carolina Nalon é mediadora de conflitos especialista em Comunicação Não Violenta, fundadora do Instituto Tiê.
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