Resenha: Patrícia
Germana Viana faz terror em quadrinhos pra chamar de nosso
Quer receber novidades sobre histórias em quadrinhos? Inscreva-se!
Germana Viana faz terror em quadrinhos pra chamar de nosso
Nos últimos anos temos visto uma proliferação de filmes, livros, HQs e séries de terror nacionais. O gênero tem ganhado corpo e, com isso, uma cara. A nossa cara. Patrícia, o quadrinho de Germana Viana, é um ótimo exemplo disso. O terror brasileiro contemporâneo não tem nada dos personagens bizarros ou presos em histórias macabras e que espalham o mal para se vingar de alguma coisa ou de alguém. Muitas das nossas produções no gênero versam sobre uma reparação histórica nunca feita, um mal que assombra a todos por causa de nosso estilo de vida ou estão ancoradas em personagens dóceis que, em nome da proteção de um grupo fragilizado, aterroriza os verdadeiros responsáveis pelo terror. Patrícia faz parte desse último grupo, eu diria o mais ácido, mas todos são extremamente sedutores.
Há algo de vingativo, mortífero e assustador, claro, estamos falando de terror. Mas a subversão de estar do lado da morte me é muito confortável. Eu nunca tinha me dado conta do quanto ver pessoas indefesas sendo atacadas pelo palhaço desequilibrado ou pelo boneco assassino me desagradavam. Uma receita simplista e de sentimentos básicos. Quem não reza para o casal com seu violão sair dali logo enquanto Jason se aproxima com a serra elétrica?
Pois o terror do século XXI é bem mais complexo que isso e o Brasil acertou em se agarrar a essa trama onde bem e mal se entrelaçam, fazendo a gente pensar, sentir e questionar. Deixemos o maniqueísmo para as novelas e bora mergulhar mais profundo, não é mesmo?
Seria Patrícia uma garotinha maldosa? Para alguns, a resposta pode ser sim. Mas, pra mim, é um taxativo não. Ver os calhordas se danarem é o tipo de terror que faz a minha cabeça. E, veja, estamos falando de ficção. Longe de mim defender humanos que saem fazendo justiça com as próprias mãos. Mas, se no reino do horror precisamos de alguém que sofra, que seja aquele que espalhou sofrimento e dor.
Falando assim, pode parecer o tipo de horror “politicamente correto” para qual algumas turmas gostam de torcer o nariz. Mas não é. Patrícia é a prova de que há maldade em todos nós e se mexerem com os nossos, não vai ter mausoléu que segure nossas almas. E, porque não: Patrícia é a revanche histórica de quem foi sistematicamente esmigalhado pelo sistema. E o bacana do quadrinho é como, no traço, a gente vai sendo transportado de um sentimento a outro, mas, ficando, nós mesmos, responsáveis pela criação da trilha sonora e do timbre das vozes, o que no terror faz toda a diferença.
Fora isso, concordo com a autora: gosto de pensar que nossos antepassados, nossos anjos ou nossas histórias ancestrais causam um certo medo nos outros. Principalmente se isso for impedi-los de aviltar as nossas casas e os nossos descendentes.
Não sei se tenho uma Patrícia por aqui (minha mãe garante que sim, que minha vó Jacy, meio enfermeira meio bruxona, olha por nós). Mas de uma coisa eu tenho certeza: me tornarei uma. Me aguardem!
Clique aqui e compre seu exemplar de Patrícia, quadrinho de Germana Viana.
Lia Bock é comentarista da CNN Brasil, todo dia 10h30 no programa Espaço CNN, na rádio e toda sexta, 22h30, no CNN Nosso Mundo. Foi editora-chefe da revista Tpm e editora de Hysteria. Também foi colunista de Universa (UOL) e é autora do Manual do Mimimi, um livro de crônicas sobre relacionamento lançado em 2013, e Meu primeiro livro, único diário inclusivo para pais, mães e cuidadores guardarem a história de seus filhos. Ambos lançado pela Cia das Letras. Siga: @liabock
Quer receber HQs inéditas em primeira mão?
Clique aqui e apoie a Mina de HQ!