10 quadrinhos para ler no 8M
Cinco quadrinhos nacionais e outros cinco internacionais que trazem reflexões sobre a luta das mulheres contra o machismo
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Cinco quadrinhos nacionais e outros cinco internacionais que trazem reflexões sobre a luta das mulheres contra o machismo
O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 08 de Março, é uma data de luta por direitos e reconhecimento dos movimentos de mulheres. É um adeus às rosas: quando falamos de reconhecimento, não é o ato de agradecer por termos mulheres no mundo. Essa é uma data em que podemos pensar também na importância de conhecermos histórias mais diversas sobre mulheres: mais vivências, mais debates, novos ângulos e perspectivas.
E nesse campo aberto de possibilidades, é claro, estão os quadrinhos! Há várias obras produzidas por mulheres no Brasil e em todo o mundo.
Aqui, separamos dez HQs — cinco nacionais e cinco internacionais — para começar a ler nesse 8M.
Se tem algo melhor do que conhecer um ponto de vista que difere do nosso, é conhecer vários pontos de vista de inúmeras histórias e pessoas diferentes. É isso que se comprometeu a fazer a manauara Laura Athayde: transformar em quadrinhos histórias reais de 70 mulheres em situações diversas. O livro traz relatos reais de preconceitos, situações frustrantes, histórias de dores profundas e também de muita superação. Todos os quadrinhos são anônimos e o projeto começou como uma webcomic no Instagram. Ao longo dessa trajetória, o quadrinho se tornou uma exposição no Itaú Cultural, em São Paulo, e levou a estatueta do Troféu HQ Mix em 2019. Também foi indicado ao Prêmio Angelo Agostini na categoria de Melhor Desenhista.
Às vezes, tudo o que a gente precisa é rir um pouco de si mesmo. E foi essa proposta que a Bruna aplicou na HQ que, vale destacar, começou também como um perfil no Instagram. Com muito sarcasmo e desenhos bem controversos, essa história mostra inúmeros quadros sobre situações muito cotidianas na vida das mulheres: vivências em ambientes machistas, sofrimentos e aflições da rotina, transtornos mentais, sexo, trabalho. Como a própria capa diz, são crônicas do cansaço existencial; situações que às vezes só poderiam ser piadas, mas, infelizmente, não são.
Seguindo na mesma linha de falar de como o cotidiano pode ser assustador, é possível ler mais um dos espetáculos criados pela Lila Cruz. Como ser adulta e outras (im)possibilidades — e guarde bem a ironia dos parênteses — mostra várias das dificuldades que as pessoas encontram quando atingem a fase adulta. E sim, é algo meio Millennial mesmo: boletos, problemas e frustrações, mas acima de tudo, é muito mais sobre amadurecimento (e tá tudo bem!). A história é contada do ponto de vista da autora e aborda muitas de suas impressões sobre ser adulto e o que isso significa. Mas o mais divertido dessa HQ é que ela realmente se conecta a algo muito profundo e que se passa na cabeça de muita gente: ser adulto não tem (realmente!) nada a ver com a visão que tínhamos dos adultos quando crianças. E é, evidentemente, bem mais difícil do que parece.
Para pessoas cisgênero pode ser muito difícil entender o que se passa na mente e na vida de uma pessoa que não se reconhece com o mesmo gênero que nasceu. E compreender isso em sua totalidade vai muito além de vencer preconceitos: é preciso ouvir, aceitar, pesquisar, acolher e reconhecer as barreiras. O trabalho da Luiza Lemos traz justamente esse questionamento e conta sua história, como mulher trans, em detalhes. É possível ficar ainda mais próximo para conhecer quais são as conquistas e os desafios, conectar-se à protagonista e, de quebra, ainda rir com um bom humor provocarod.
Um dos maiores recordes de campanha de financiamento coletivo de livros no Catarse é também um grande e fiel retrato do racismo no Brasil. Confinada começou como uma webcomic no Instagram para fazer com que os brasileiros reflitam sobre a discriminação racial no país. A história se passa na pandemia e é focada em duas personagens principais: Fran, influenciadora digital, e Ju, trabalhadora doméstica que trabalha na casa de Fran. Com muito estudo e baseado em vivências para lá de reais, os artistas contam a triste realidade de ser uma mulher preta e empregada doméstica no Brasil e todas as dificuldades que isso traz há gerações. E, apesar da trágica realidade, há algo ainda mais intenso nessa HQ: Confinada traz esperança, algo muito caro e necessário no momento.
Quem está acostumado a ver um grupo de heróis desbravar uma aventura entre amigos e desvendar inúmeros mistérios no caminho pode gostar ainda mais de ler Lumberjanes, que também se propõe a trazer uma aventura épica, mas com um grande diferencial: os aventureiros na verdade são aventureiras. O quadrinho fez tanto sucesso nos Estados Unidos que se tornou uma série mensal e a história não só concorreu ao Prêmio Eisner, como levou a estatueta para casa, na categoria de Melhor Nova Série e de Melhor Série para Adolescentes.
O nome assusta e esse sentimento, precisamos admitir, é proposital: o quadrinho traz um caráter feminista bem explícito. Inspirado nos filmes de “mulheres na prisão”, das décadas de 1960 e 1970, conta a história de personagens diversas que não são identificadas, em um futuro distópico, como “padrões” dentro um planeta engasgado no patriarcado. Dessa forma, elas são enviadas ao Planeta das Putas, lugar que abriga mulheres “desajustadas” ao comum, com rotulações como: histéricas, abortistas, ninfomaníacas, egoístas, obesas, entre muitos outros. O quadrinho é considerado “adulto” — para maiores de 18 anos — e reflete muito da nossa atual sociedade.
É sempre tempo de entender sobre conflitos geopolíticos que levam a guerras. Essa é uma história autobiográfica sobre a vida da autora durante a Guerra Civil Libanesa. Ao perder os pais para o conflito armado, os vizinhos da protagonista criam para ela e seu irmão um mundo de fantasia em um loca seguro. A HQ é um importante relato sobre a vivência das crianças na guerra, além de explorar bastante o senso de comunidade e os valores da família. Em resumo, um delicado e necessário relato sobre alguns dos traumas ressignificados.
Membro do coletivo Chicks on Comics, fundado em 2008 por artistas da Argentina, Colômbia, Holanda e Nova Zelândia, Powerpaola é uma das quadrinistas e ilustradoras de maior destaque e relevância na América Latina na atualidade. Ela nasceu no Equador, cresceu na Colômbia e hoje vive na Argentina. Seu primeiro livro, Vírus Tropical, já se tornou um clássico e apresenta sua saga familiar: um pai sacerdote que dá missas clandestinas em casa, uma mãe que lê o futuro nos dominós, uma irmã mais velha depravada, outra totalmente beata… E Paola, a caçula, que tenta encontrar seu espaço e sua identidade.
Como o próprio nome já sugere, o livro traz uma reflexão nada nova, mas que precisa muito ser discutida: por que o corpo da mulher é alvo de tantas críticas, intervenções, punições, controles e desejos, tal qual um corpo público? O quadrinho autobiográfico busca questionar alguns impeditivos às mulheres e comandos decididos pela sociedade patriarcal em todo o mundo. Além disso, ele traz uma reflexão sobre o que devemos ou não fazer com nossos corpos, bem como quem é o único dono e responsável por ele.
Luiza Vilela é jornalista formada pela PUC-SP e repórter de tecnologia, negócios e finanças. Tem afinidade com entretenimento e após foi criadora de Phantom Ladies, projeto de TCC sobre a atuação das mulheres nos quadrinhos.
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