Uma das pioneiras dos quadrinhos brasileiros, Ciça Pinto é homenageada na CCXP de 2022.

Cecília Alvez Pinto, a Ciça, é conhecida até hoje como uma das mais expressivas quadrinistas brasileiras. Produziu tiras para o Pasquim e outros jornais, além de ter ilustrado livros infantis. Entre suas obras mais conhecidas, as tiras cômicas de o Pato se destacam por terem sido publicadas na época da ditadura, com forte crítica social, conseguindo driblar a censura da época.

E é esse personagem que ilustra as credenciais dos artistas do Artists’Valley nessa edição da CCXP. O Pato, foi publicado na Folha de São Paulo entre os anos 1970 e 1985, mais tarde,  no Jornal do Brasil e na Folha da Manhã.

No entanto, apesar da sua importância e pioneirismo nas artes gráficas brasileiras, Ciça não é muito conhecida do grande público e isso se deve exclusivamente ao apagamento e invizibilização que as quadrinistas sempre sofreram e que justificou não só o surgimento da Mina de HQ, como de outras iniciativas tão importantes como o Políticas, o Lady’s Comics e o livro Mulheres e Quadrinhos. 

É sob argumentos de que o humor das mulheres é muito feminino, muito doméstico e nada político, entre tantos outros, que cartunistas como Ciça, Cahu, Mariza e Crau são ignoradas ou timidamente reconhecidas pela historiografia do humor gráfico no Brasil. Jamais são reconhecidas, contudo, como gênias ou grandes. O humor produzido por mulheres parte da experiência em um mundo que não foi produzido por elas, logo não projeta ou atende suas demandas (WALKER, 1988).

Cíntia Crescêncio, pesquisadora de quadrinhos. (Mulheres e Quadrinhos, 2019)

A indicação de Ciça como homenageada na CCXP22 veio de Dani Baptista, presidente do Imag – Instituto do memorial das artes graficas do brasil e co-presidente do troféu HQMIX. Dani e Gual são responsáveis pelo projeto que visa registrar a presença das mulheres nas artes gráfica brasileiras em parceria com o CPF do SESC São Paulo.
O video com a Ciça pode ser conferido na página do CPF do Sesc:
Memória das mulheres nas artes gráficas – Ciça Alves Pinto

Em seu artigo para o livro mulheres e Quadrinhos, Luiza Vilela também chama a atenção para o fato de que, apesar de ter produzido tiras para O Pasquim, importante veículo de resitência contra a Ditadura, ela raramente é lembrada ou mencionada em publicações ou ações sobre o jornal.

Quando foi entrevistada pelas Lady’s Comics sobre esse tema, Ciça afirmou o seguinte:

Na época da ditadura a criação dos quadrinhos era ao mesmo tempo mais fácil e mais difícil. Mais difícil porque era preciso tomar cuidado para não cutucar a onça com vara curta demais: e o uso de metáforas tinha que ser na medida certa para que o recado fosse dado e compreendido, mas com o risco de censura ou coisa pior limitando a crítica. E, mais fácil porque a própria ditadura era ridícula em seu horror.

Portanto, é muito significativo que uma das nossas maiores referências nos quadrinhos receba essa homenagem ainda em vida. Hoje a cartunista tem 83 anos e apesar de sua relevância, ainda é difícil encontrar informações sobre ela na mesma profusão que seus colegas contemporâneos do sexo masculino. Por isso, prestigiem nossas autoras, assistam aos vídeos do projeto Memória das mulheres nas artes gráficas, produzido pela Dani Baptista e pelo Gualberto Costa, dois profundos conhecedores e guardiões da memória dessas grantes artistas.