Intencionalidade pra furar a bolha
Como podemos, intencionalmente, buscar romper com o padrão, mapear o que está fora da nossa bolha e lutar por visibilidade, igualdade e equidade nas histórias em quadrinhos
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Como podemos, intencionalmente, buscar romper com o padrão, mapear o que está fora da nossa bolha e lutar por visibilidade, igualdade e equidade nas histórias em quadrinhos
Senta que lá vem textão – e reflexão!
Dia desses eu estava lendo o post que Samantha Almeida (diretora de criação dos Estúdios Globo) fez no Instagram sobre o prêmio que ela ganhou no Caboré, premiação do jornal Meio & Mensagem, como Profissional de Inovação. E aí fiz conexão com algo que aconteceu há alguns dias no meio dos quadrinhos.
Rolou uma polêmica bem previsível no Twitter sobre homens que estavam dizendo que foi marmelada a quantidade de mulheres premiadas esse ano no Troféu HQ MIX, a principal premiação de histórias em quadrinhos do Brasil, porque “mulheres só votam em mulheres”. Eu sou uma dessas mulheres que declaram abertamente só votar em mulheres, pessoas trans e não binárias, buscando uma a maior pluralidade possível também para além de gênero.
“Romper o ciclo normativo e votar mirando em diversidade para um prêmio de histórias em quadrinhos é ter intencionalidade”
Pois bem, é aí que entra a inspiração que me veio ao ler a Samantha. Em seu post ela fala sobre a importância de indicações e mapeamentos INTENCIONAIS de profissionais em prêmios e em todo o mercado, para que a gente possa ter um um olhar de futuro compartilhado. “Nos mapear e nos indicar é intencionalidade e ação”. Ela está falando sobre profissionais negros. Peço licença e tomo a liberdade para trazer para o contexto da Mina de HQ e dizer que romper o ciclo normativo e votar mirando em diversidade para um prêmio de histórias em quadrinhos é também ter essa intencionalidade. Assim como produzir de conteúdos para dar foco e visibilidade a artistas e trabalhos mais diversos, como venho fazendo há tantos anos na Mina de HQ. Não significa excluir os homens ou as pessoas brancas de suas (das nossas) escolhas mas, sim, intencionalmente buscar romper com o padrão, mapear o que está fora da bolha normativa e lutar por visibilidade, igualdade e equidade.
Só assim vejo uma possibilidade real de avançarmos. Mas, para isso, é preciso disponibilidade e coragem para agir com essa intenção.
Nesse caminho, uma das grandes referências e inspirações aqui na Mina de HQ é a Revista AzMina, você conhece?
Elas usam tecnologia e informação para combater a violência de gênero. Eu estava lendo uma das últimas newsletters e me identifiquei muito com o editorial da diretora Helena Bertho e com a forma como ela define a atuação d’AzMina: “nosso feminismo não é só para mulheres. A cobertura d’AzMina inclui homens trans e pessoas não binárias – e isso não apaga a violência contra mulheres cis”.
É exatamente por isso que na Mina de HQ o foco está na produção artísticas de mulheres, cis e trans, homens trans e pessoas não binárias. Assim como a Mina de HQ, AzMina também nasceu em 2015, também focava em mulheres no começo de sua trajetória e também está sempre revendo seu foco e posicionamento para ser o mais inclusiva possível. Como bem explica Helena, “muitas pessoas não se identificam como mulheres, mas sofrem com o machismo e a violência de gênero”.
Pensa comigo, o patriarcado é cisheteronormativo. Homens trans e pessoas não binárias não são mulheres, mas tão pouco estão incluides em espaços onde a normatividade prioriza homens cis – além de excluides, sofrem um imenso preconceito, invisibilização e violências.
A gente não sabe tudo. Quer aprender um pouco mais sobre esses assuntos? Assista esse vídeo sobre linguagem neutra e leia Kit Gay de Vitorelo, quadrinista e pesquisadora, publicado pela editora Veneta.
Aliás, estou EMOCIONADÍSSIMA com esse livro cheio de explicações sobre gênero e sexualidade, de forma lúdica, divertida e simples de entender. Como disse Aline Zouvi, ele deveria ser lido em todas as escolas e em todos os lares. Para mim, é uma obra tão essencial quanto Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro.
Gabriela Borges é jornalista, mestra em antropologia e curadora de conteúdo. Em 2015, criou a Mina de HQ, plataforma que se tornou referência para quem quer ler histórias em quadrinhos mais diversas, conhecer artistas mulheres e trans (homens, não bináries etc), e também criar estratégias de comunicação a partir das HQs. Mídia independente e feminista, é um dos mais relevantes canais sobre HQs e gênero no Brasil. Autora do livro Encuentre su Clítoris, pela Marca de Fantasia, e editora e co-organizadora da antologia Quadrinhos Queer, pela Skript.
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